Não
tenho certeza como é, mas aquilo só pode ser cenário de guerra. Um ambiente
hostil para a sobrevivência de qualquer ser, principalmente para humanos que já
estão baleados da constante batalha: a vida. Partindo da ida sofremos ao subir um morro quase em 90º, a recompensa nessa
escalada é a visão privilegiada do mar, logo ali no horizonte, dançando em
traços azuis e verdes. Nossa visão consegue delimitar, como que feito em traço
de lápis a separação entre os tons de belezura.
Parados
na guarita já entristecemos pelas condições exteriores de sua aparência física.
O acolhimento que deveria fazer jus ao seu nome é retalhado entre falta de
cadeiras, lotação constante, gritos e choros, ineficiência de atendimento –
talvez não por má educação do profissional, mas pela falta dos mesmos, ou
(ainda imagino outras causas) falta de espaço, preparação, condições! As
paredes turvas-azuis (tom exclusivo de sua existência) seguram os ombros
cansados e machucados que buscam auxílios variados, auxílios que poderiam mesmo
serem dados ao lado das suas casas, nas unidades
primárias. Quando você penetra o portal
da miséria encontra mais fila, te fazendo imaginar que só pode ser
divertimento público sua criação, mas não.
Ali
em poucos metros quadrados de um corredor você consegue soltar a fala
rotineira: - Que cenário de guerra! Todos falam, você irá falar se visitar.
Logo após esse momento verbalizado lhe alcança uma barrufada de odor. Não é o odor que está acostumado nos hospitais da vida, não é éter. É cheiro
de doença, de ferida, de aconchego com a morte (se assim posso me ousar). A
população doente espalhado por aquele espaço, encostados nas paredes sobre as
macas enferrujadas, recebendo soros em suporte também enferrujados. Ao andar do
começo ao fim – talvez entre 15 e 20 metros – você escuta uma sinfonia
entristecida e também, por que não, enfurecida pelas condições (tosses,
espirros, gritos, resmungos, cochichos, gemidos e uma gama de onomatopeias).
Resumindo
minha estadia de oito dias vos conto o que vi e vivi nessa pseudocabana de
guerra construída no morro do Alto da Conquista (propício: é o sentimento que
se tem ao chegar ao topo e ao conseguir sobreviver desse atendimento).
Vi
senhores chegando ensanguentados e esperando por atendentes médicos pedindo
para esperar, ou melhor, enfermeiros pedindo para esperarem pelo atendimento.
Como se ouvisse em resposta: - Ah! Ok! Não estou com pressa. Posso curtir um
pouco mais a dor e perder um pouco mais de fluidos corporais. Vi senhoras e senhoritas
se espremerem em filas para medicações e curativos, deixando transparecer na
face alegria de estar esperando enquanto não recebem a “cura imediata” para o
problema. Crianças de colo, de pé e de cama, por que não, emudecendo-se e
chorando por estar ali, assustado naquele ambiente, respirando aquele fino ar.
Vivi a grosseria de atendentes, os bons dias não respondidos, os procedimentos
acelerados, o nervosismo generalizado, a reclamação contagiante, a tristeza de
se estar ali na função de doente ou de cuidador.
Termino
triste, não pela experiência de praticar um componente curricular, de realizar
procedimentos, porque mesmo depois desse desgrenhado relato, aprendi. Todavia
fico triste por saber que não vai sair dessa lama, por estar cada vez mais afundado.
Por ter como novo governante – extraído de relatos de moradores antigos – o
deus da roubalheira.
Sem
delongas, recomendo dois pontos: escolham outro, vá realmente se necessário a
esse hospital (como se o tipo de lugar fosse turístico) e se forem, tomem um
café da barraquinha logo ao lado pra lhe dar uma revigorada, talvez.