30.10.08

Relutância

Meu vinho não é doce. Nem nada! Tudo. A porra da noite não se esvai. O tempo não passa e minha negativa vem com mais freqüência. Meus delírios permanecem a aparecer. O vinho não é doce. Quero-te e a impossibilidade estabelece-se no ar, no vácuo, no nariz que acabei de limpar. Tu não estás mais a me deixar. Tu, e como disse noutra escrita, boba tão quanto, e somente tu parece não querer mais os afagos nos cabelos... Que depois passa para a orelha, voltando à nuca. O não é doce. Pelo menos é o que parece quando me olha daquele jeito que ninguém mais, agora, consegue olhar. Agora. O agora se foi e retorno ao meu ciclo, perfeito círculo, vicioso. O vinho. É doce. Meus olhos vão fechando-se e minha noite parece que vai acabar. Petulância se querer resistir. Espero que nos meus sonhos dormidos me venha tu. Que outrora no real não quis aparecer. Espero-te nos afagos e amasso. Espero-te para beijar-me. Doce.

29.10.08

Rasante

Eu queria ter visto o pôr do sol ao teu lado... Creio que todos queriam vê-lo fritar ou quem sabe... Sei lá. Apenas sumi. Talvez num horizonte... Distante. Quis sempre ter algo e esse algo não era um... Eram. E serem, torna-se mais difícil para a posse. Tudo é muito mais difícil e trabalhoso do que nada. Eu gritei! Mas a voz doce que eu lembrava não fazia com que eu fosse teu e tu foste meu. Eu só quero te amar mais... E saber que nunca mais estarei só. Mas bem sei que em algum lugar entre espaço e tempo deve existir alguém que me queira. Torço para ser você.
[pausa para uma música de rock]
Hoje eu me vestir com as roupas que comprei na boutique cara. Só para te ver e perguntar: - Ei! Como vai você? Mas tu... Tu, e somente tu não me deste esse prazer. No meu passeio sozinho calçando meu sapato novo só relembrei sensações e hoje, morena, eu nem tenho meu caderno de escrevê-los. Dei. E o pesar que sinto não é pequeno, assim como a música que me parou.
[choro]
A saudade que sinto vale à pena, mesmo desfalecendo com essa dor que me persegue quando eu deixei de te existir, como dizes. É condicional. Mil perdões, morena. Meu canto não é mais a sinfonia que te conquistaste.

PS: De “Horizonte distante a Condicional”, passando por “Sapato novo”.

Overdose de Machado

[Rapaz envolvido por livros e folhas soltas sentado numa mesa no palco]

Um rapaz que está estudando sobre Machado de Assis para concluir uma tese ler compulsivamente vários textos sobre o tema, começa a enlouquecer de tanto estudar...

[A mãe entra e fica no canto do palco]

MÃE - Meu filho pára de estudar! O juízo é mais fino que uma folha de papel.
RAPAZ - Não posso minha mãe! Tenho que concluir essa tese.
MÃE - Descansa pelo menos um minutinho...
RAPAZ - Meu tempo é muito curto. E pára de me interromper!

O rapaz continua lendo loucamente até começar a dizer decoradamente e rápido, datas e fragmentos da vida de Assis.

RAPAZ - 1861: Publicou desencantos 1867.1868; conhece Castro Alves 1869; Casou-se 1899, 1908 morreu!

Começa a abrir os livros de Machado e vai lendo aleatoriamente citando os nomes dos personagens desses.

[Abre o livro Quincas Borba]

QUINCAS BORBA - Tudo que está cá fora corresponde ao que sinto cá dentro; vou morrer meu caro Rubião... Não gesticules, vou morrer. E que é morrer, para ficares assim espantado?
RUBIÃO - Sei, sei que você tem umas filosofias... Mas falemos do jantar; que há de ser hoje?
[pausa]
RUBIÃO - Que é? Que quer?
QUINCAS BORBA - Nada. Umas filosofias! Com que desdém me diz isto! Repete, onda, quero ouvir outra vez. Umas filosofias!

[Abre o livro Helena]

HELENA - Pensa que gastei toda a tarde em fazer crochê?
ESTÁCIO - Não?
HELENA - Não, senhor; fiz um furto.
ESTÁCIO - Um furto?
HELENA - Fui procurar um livro na sua estante.
ESTÁCIO - E que livro foi?
HELENA – Um romance.
ESTÁCIO - Paulo e Virgínia?
HELENA - Maion Lescout.
ESTÁCIO - Oh! Esse livro...

[Abre o livro Memórias Póstumas de Brás Cubas]

VIRGÍLIA - Sim, é amanhã. Você vai a bordo?
BRÁS CUBAS - Está doida? É impossível.
VIRGÍLIA - Então, adeus!
BRÁS CUBAS - Adeus!
VIRGÍLIA - Não se esqueça de Dona Plácida. Vá vê-la algumas vezes. Coitada! Foi ontem despedir-se de nós; chorou muito, disse que eu não a veria mais... É uma boa criatura, não é?
BRÁS CUBAS - Certamente.
VIRGÍLIA - Se tivermos de escrever, ela receberá as cartas. Agora até daqui a...
BRÁS CUBAS - Talvez dois anos?
VIRGÍLIA - Qual! Ele diz que é só até fazer as eleições.
BRÁS CUBAS - Sim? Então até breve. Olhe que estão olhando para nós.
VIRGÍLIA - Quem?
BRÁS CUBAS - Ali do sofá separemo-nos.
VIRGÍLIA - Custa-me muito.
BRÁS CUBAS - Mas é preciso; adeus, Virgília!
VIRGÍLIA - Até breve. Adeus!

[Abre o livro Dom Casmurro]

CAPITU - Você indo, esquece-me inteiramente.
BENTINHO - Nunca!
CAPITU - Esquece. A Europa, dizem que é tão linda, e a Itália principalmente. Não é de lá que vêm as cantoras? Você esquece-me, Bentinho. E não haverá outro meio? D. Glória está morta para que você saia do seminário.
BENTINHO - Sim, mas julga-se presa pela promessa.
CAPITU - Jura que ao fim de seis meses estará de volta.
BENTINHO - Juro!
CAPITU - Por Deus?
BENTINHO - Por Deus, por tudo. Juro que no fim de seis meses estarei de volta.
CAPITU - Mas se o Papa não tiver ainda soltado você?
BENTINHO - Mando dizer isso mesmo!
CAPITU – E se você mentir?

[Ao final pega o livro “O Alienista” e abre citando o nome de Simão Bacamarte, mas antes do personagem entrar]

RAPAZ - Não! Você não precisa nem entrar... Você é louco. Não sou nem um pouco...
CAPITU - Nós só somos personagens. Estamos na tua cabeça. [Chegando perto dele e batendo na sua cabeça]
RAPAZ - Vocês não estão só na minha cabeça. Todos estão vendo! Só se todos forem doidos. [Vira para o público] - Vocês são loucos?

Depois de vários livros abertos grita:

RAPAZ - Quietos! Essas histórias estão vagas. Vou dar um rumo na vida de vocês [direcionando para os personagens que mantém uma cara de assustado] - Vamos lá!
Venha aqui Capitu! Quero que você seja par de Brás...
CAPITU - Não serei par de um defunto.
RAPAZ - Como assim!?
BENTINHO - Ela não me trairá.
RAPAZ - Libertem-se dos seus livros.
BRÁS CUBAS - Não posso. Essa foi a minha única vida.
HELENA - Não quero me libertar do que Machado escreveu. Estou muito confortável daquele jeito.
QUINCAS - Você é um louco. Não sabemos fazer mais nada.
RAPAZ - Incapazes! Vocês precisam de Machado até para pensar?
RUBIÃO - Não! Somos criações suas!
RAPAZ - Burros! Saiam daqui!

[Termina a tentativa de criar uma história e sai fechando os livros]

RAPAZ - Basta! Basta! Vocês são ruins... Vocês não são bons personagens.

[Ele olha para trás e encontra Machado de Assis em pé]

RAPAZ - Quem és tu?
MACHADO DE ASSIS - Eu!? Machado... Não me conheces? Claro que sim! Eu sai da sua cabeça!
RAPAZ - Estás errado... Mas bem que tive uma idéia de um tu assim.
M.A. - Então... Surgir dessa parte do teu cérebro.
RAPAZ - Quer dizer que...
M.A. - Você me conhece muito bem. Só estou escondido na tua cabeça...
RAPAZ - Preciso te conhecer melhor. Preciso que você venha mais claramente na minha mente.
M.A. - Então me assista!

[Toma forma de narrador na cena. O rapaz senta no chão e assiste a história. Outra pessoa entra no palco e interpreta toda a história, que o primeiro Machado conta].

M.A. - Nasci no Morro do Livramento... É! Não me livrei de muita coisa. Tudo aconteceu no dia 21 de junho... A partir daí minha vida tomou um rumo bem trágico.
Perdi minha mãe e minha irmã inexplicavelmente. Meu pai me deu uma madrasta e isso foi assustador. [Entram duas pessoas interpretando Machado quando novo e sua madrasta] Ele morreu. E eu fiquei com Maria Inês...
Depois disso o que vem não é tão importante. Só me acarretou de histórias bobas.
‘Ta bom! Comecei a vender doce para ajudar em casa... Porém eu sou gago

[Quem interpreta começa a vender doces gagamente].

M.A. - É! Fui Coroinha... [pausa] E foi bem depois, que consegui entrar na marmota fluminense, jornal da época. Lembro do poema “Ela”, o primeiro que publiquei. Mas sofri muito. Não vou me fazer de coitadinho aqui.
Nas passagens pela vida fui discriminado por ser mulato, o que na época era “ruim” para um artista. Eu era pobre... E isso só dificultava minha carreira. Porem, modéstia a parte, eu sou muito talentoso. Foi com meu talento que consegui vencer. Mas ainda vou chegar na vitória.
Eu nasci com um problema que eu devo tomar cuidado. Sou epiléptico e meus ataques não olhavam os lugares. Era no trabalho, nas festas, eu batia os dentes e tremia tudo.
Depois de um tempo, cheguei à primeira seção da ABL. E no meu discurso, eu novamente... [Machado interpretado inicia um discurso gago, mas logo pára]

[Machado sai inexplicavelmente do palco enquanto o rapaz faz o público aplaudi-lo].

RAPAZ - Não! Volta Machado! Para onde tu foste? MACHADO!!! Não é possível, Machado ter saído assim...
PESSOAS NA PLATÉIA - Louco!

[Vira para o público].

RAPAZ - Vocês também viram, não é? Não sou louco... Não foi só o meu pensamento.
PESSOAS NA PLATÉIA - Você está realmente doido. Eu não vi nada.

[Sai do palco, direcionando-se para o público]

PESSOAS NA PLATÉIA - Você não vai conseguir nada assim...
RAPAZ - Como não vou conseguir?
PESSOAS NA PLATEIA - Você nem se reconhece!
RAPAZ - Claro que sei quem sou! Sou Simão Bacamarte. Não sou Bentinho... Sou Escobar, sou Brás. Posso ser todos! Até Machado!
PESSOAS NA PLATEIA - Está provado que és louco!

[Dá um surto e vai pegando o braço do povo e chamando-os pelo nome dos personagens]

RAPAZ - Capitu! Por que não conversas comigo? Fala Quincas! Cadê o Rubião? Marcela, por que demorastes tanto?? VIRGÍLIA! VIRGÍLIA!

[Entram dois homens que seguram o rapaz que tenta fugir levando-o para fora de cena (na ilusão de uma prisão num hospício). Rapaz continua gritando o nome de Machado]

M.A. - Está provado que por mais que tentem, nunca conseguirão decifrar os mistérios do bruxo das palavras! EU, MACHADO DE ASSIS...

‘Tá aí gente a peça que prometi no post “Virgília!”. Fui eu que escrevi, por isso deve conter erros ortográficos e de concordâncias. Mas valeu a pena fazê-la.
REFERÊNCIAS: Machado de Assis: Helena, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, Quincas Borba, O Alienista (Papéis Avulsos).
Ah! E Joseph Climber (haha).
E é verdade... Quem deu o título foi minha sala.

27.10.08

O chulinha do EMO

[em segundos]
A rua estava movimentada... Pessoas iam e viam, numa correria infernal. Carros como numa grande cidade... Motoqueiros desesperados! Foi quando eu vi aquela bola de pêlo minúscula correndo em direção à liberdade. Pena! Ia morrer facilmente nas mãos do cruel mundo. Mas eu, como um super-heroizin disse: - Não! Eu preciso fazer algo... E fiz. Naquela rua comprida uma moto acelerada veio na sua direção, o vilão que estava em cima dela dava seu sorriso malvado. Eu corri para perto do cão e o protegi com uma só mão. Foi nesse momento que o tempo parou... Como nas cenas de SMALLVILLE em câmera lenta. A motocicleta veio ao meu encontro e como um escudo, estendi minha mão, ela desviou e todos que estavam em volta aplaudiram-me. Eu acabara de salvar a vida daquele pobre chulinha.
Essa história fica boa com os “Ohs!” e “Ahs!” do Mistureba.

*Verídica a história.
*Dados: rua do CNEC; noite; o cachorro de Jan (o EMO).

26.10.08

VIRGÍLIA!

Essa penúltima semana de outubro foi dedicada exclusivamente a Machado de Assis. O colégio numa de suas tentativas de mostrar trabalho, promoveu (ou melhor) nos fez promover um projeto.
De segunda a quinta, nós, alunos, fizemos oficinas relacionadas a temas específicos de sua obra (lembro de quem deu essa idéia e foi por isso que a coordenadora ficou, digamos, com a cara fechada. Oh! Como ela não teve essa idéia antes? Ficou frustrada). Na segunda-feira minha sala, 3º ano A, encarregou-se de mostrar a vida e (de forma geral) a obra de Assis. Foi bom. Na terça o 1º ano fez um desastre com Quincas Borba e só me lembro de sua história por que meu colega “Papito” me contou. Quarta, o Teatro foi mostrado pelo 2º ano. Bem! Apesar do mico que passei em vestir-me de prostituta para uma peça. Ridículo! E pra finalizar, o 3º ano B falou sobre Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro. Foram bem também! Essas oficinas foram bastante divertidas, ao contrário das Olimpíadas do ano passado. A competição tornou-se menor, as brigas também!
Porém, CNEC sem apresentações para o público não é CNEC. E isso por enquanto. O colégio está numa descida infreável nos projetos. Terrível! ...Foram ontem as apresentações, no colégio mesmo. (Lembro da época de Ginásio!) Uma abertura, digamos, boa, apesar de um “ator” não estudar mais no colégio. O protagonista. Pergunto-me... Por que não aproveitam os atuais alunos? A COORDENADORA acha que não são bons, só pode... hahahaha Mas a apresentação foi legal. Depois veio uma série de apresentações boas também (cansativas algumas, verdade, porém boas). O que me impressionou foi a qualidade dos roteiros. Bem trabalho. E as atuações, principalmente da galera do fundamental...
P.S.: Amor, cuidado na próxima peça... rsrsrs (Quem estava lá vai entender... haha).
E a minha participação nas apresentações foi boa... Primeiro fui “contra-regra” para o 3º ano B... Divertido! Depois fui ator. Bom ser ator. Eu não esperava minha peça ser tão boa... Minha sala foi mui bem nas interpretações... (Errei numa coisa. Eu fui tão cara de fechei projeto que a peça posterior quase ficou sem público).
De vez em quando é bom ser louco... E eu fui! Terminei no meu desesperado grito... Virgília!

*Depois posto a peça aqui.

14.10.08

Meu cacoete

"...Homem extraordinário pelos feitos guerreiros.
Nada mais justo para mim,
que luto com o que me deixa pasmo.
Eu."