17.5.11

As ogivas da alma, plugadas aos mísseis das palavras estão prontos para serem acionados. Da central de controle o pequeno verme mira das janelas molhadas por lágrimas.
Na Síria um homem acorda no meio da noite com um gosto ruim na boca, sua mulher o abraça, mas o mal já lhe avisara do pior. Não dormiria mais. Na Amazônia a mãe despede-se de seu filho, entregando-o a uma mãe Saxã, nunca mais o verá. O pai um caminhoneiro de beira de estrada, nem tomou conhecimento de sua existência. A comida pouca já a havia feito se livrar de mais dois. Não sentia, então, essa mulher?
A serpente se debatia entre os dentes, ferina e obstinada a lançar seu veneno no primeiro ser que lhe prestasse o verbo. Irrelevantes são ao homem os sonhos que queimamos para que a máquina continue a funcionar com perfeição.
Dos vales de Golã, espíritos tristes e mutilados gritam o que os Reinos de Insanidade já nos foram capazes de impor. Um tanque ruma na direção de um vilarejo na Rússia Oriental. Uma mulher chora, seu marido a segura pelas mãos e diz: "- Já nos vemos." Mete-lhe uma bala nos miolos e treme ao apontar para a filha. Quando esta cai ao chão ao lado da mãe, ele se despede da sua casa, e quando o projétil rompe-lhe a aorta fecha os olhos e se encontra com elas no Eliseu, não sem antes deixar uma lágrima molhar o rosto.
Da fronteira norte do Chile se ouve a prece dos missionários: "-Deus, salve-os, e não se esqueça de nós." Até onde alcança o pulso da bomba.
Lá pelas tantas a náusea o faz vomitar. O grande cogumelo cresce não muito longe dali. Nunca se casara. Nunca tivera uma mulher em seus braços. Arrependeu-se de não ter se livrado da sensação de renúncia. Parecia loucura, mas só conseguia se preocupar, naquele minuto, com a porta que não trocou.
A onda de calor derruba as paredes e queima as pálpebras, pra que seja possível olhar nos olhos o destruidor. Os artelhos capazes de causarem o mal maior são os superiores: afagam; aliciam; apontam; puxam o gatilho; excitam; quebram.
Mas já podia então a filha abraçar o pai, beijar-lhe o rosto e dizer que o amava? Pronto! Havia acabado. Não havia mais água, ar, solo, animais. Só a paz da matéria destruída.


Texto de
Jesimiel Salles
3.4.2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário