29.12.09

Sinais - 01

Ainda ontem observava a cena mais consternada que já pude identificar, ao descer do ônibus lá estavam dois velhos amigos, cães de rua, pobres soldados, irmãos de fome, ambos se entreolhavam, e se confraternizavam ali sem nada a dizer, seria mesmo preciso? Eram amigos, sonhavam juntos o dia em que encontrariam um cesto de lixo com pães não muito estragados, com comida nem tão fétida. uma mão bêbada que não lhes negasse abrigo, mas agora já não lhes era mais possível alcançar juntos, porque algo já os separava, o olhar congelante e frio da morte esvalava do pobre cãosinho deitado ali na rua, o outro, como último auxílio ao seu alcance, lambia suas entranhas espalhadas pelo asfalto molhado da noite chuvosa, quando eles provavelmente estariam correndo para se abrigar. Mas já agora, não lhes seria mais permitido sonhar junto. Foi assim que por instanstes, raros num lugar onde cabeças transitam em alta velocidade, fitando o céu, como se de lá viesse a besta apocalíptica, pude notar que ainda era possível a complacência para com os seres. Pena que tão logo fui levado pela maré de pessoas que caminhavam, e logo voltei a ser parte integrante do meio, apenas concordando e seguindo olhando o céu, em alta velocidade.

Texto de Jesimiel Sales, 
cedido por e-mail.

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