21.9.10

O ano em que todos saíram de férias

Na inocência guardada por uma criança o ano de setenta fora marcado por futebol (o tricampeonato inspirava a turma da rua a jogar bola e sonhar em ser um dos heróis que completava o seu álbum de figurinhas), as mulheres (vistas através de uma greta bem atrás dos vestiários onde elas trocavam seus vestidos rodados por outros vestidos rodados) e pelos judeus que habitavam o prédio escuro e frio e ajudava a completar sua solidão. Sim! Judeus e todos os seus hábitos intrigantes e sua língua incompreensível. O que acontecia no que diz respeito a país? Nada demais. Era apenas a ditadura que corria no sangue das ruas.
Naquele momento todos que não eram a favor da “politicazinha” que reinava, ou brigava escancaradamente ou saía de férias. E eles saíram de férias e o deixou aos cuidados do vô, agora morto. E o que lhe sobrara além de seus botões e caixinhas de fósforos? A possibilidade de criar novos laços e amar novas pessoas. Foi assim sua férias. Bem diferente da dos seus pais e de boa parte de quem queria mudança.
Mas não era de felicidade completa, não era de aproveitamento do imenso espaço de tempo livre. Permanecia sempre ali, diante do telefone, diante da encruzilhada, diante das notícias que não chegavam e quando chegaram era melhor terem vindo completa, mas não. Um pedaço seu ficara pelo caminho, se atrasou e não voltou...
Ele estava perdido. Ele, por todo seu território, estava perdido.

“-E mesmo sem querer nem entender direito acabei virando uma coisa chamada exilado. Eu acho que exilado quer dizer: ter um pai tão atrasado, mas tão atrasado que nunca mais volta pra casa!”



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