24.1.10

Sinais 03 - As mortes da minha vida

Crescemos sendo incitados a nos apavorar com a morte, imoelidos a odiá-la. Alguns a ignoram, outros preferem não pensar nela. Fato é que vez ou outra estamos propícios a topar de frente com a tal.
Meu primeiro contato com essa dama foi logo ao me expor a esse mundo. Fazendo-me perder um laço familiar que ainda nem firmara, perdendo meu pai, pobre homem que, ao me ver, enfartou e se foi.
Depois só a veria de novo por volta dos meu sete anos, em um velório de uma conhecida de minha família, uma senhora gorda, de seios fartos que pareciam a sufocar em seu caixão apertado, naquela capela abafada envolta de choros convulsivos dos entes não muito abastados, misturados com sentimentos de condolências e piadinhas de velório. Familiarizei-me com aquela faceta da morte, a morte do corpo que traz consigo a separação dos espíritos. Logo descobriria que para a classe dos poetas separar-se de alguém querido enchia-lhes de inspiração, já aos pobres e desinformados traziam dor e tristezas, é horrível, essas pessoas não conseguem ver apenas como uma tranformação a qual estamos todos fadados, elas não saúdam a as mudanças, inclusive essa, as apedrejam ao invés de serem gentis.
Por volta dos nove tive outro encontro com essa senhora bem penteada, bem afeiçoada, sorridente. Ela me acariciou, me disse palavras tão lúdicas quanto lúgubres. Enfim e seduziu e arrancou-me a pureza do olhar, trago comigo as marcas disto, fui manchado, manchas na alma, minhas primeiras das muitas outras que se suscederiam. Assim então, pela primeira vez fechei meus olhos cadavericamente para uma das possíbilidades da vida. Amorte desta vez dirigia suas atenções a mim. Não a assistia mais, apenas devolvia-lhe o olhar frio e penetrante, mas envolvente.
Aos treze encontrei nela uma companheira. Seu silêncio me era encantador, sua paz era tudo de que precisava. A solidão que trazia sua presença cadente me dava força para expor minhas entranhas e não enlouquecer. a sós com ela me encontrei, e deois convivi comigo por alguns anos. Mas eu udei, mudei e não deixei endereço. Então para preencher o vazio que restara, acabei me enchendo da vida dos outros, dos sentimentos dos outros, dos filmes, das bebidas, dos aromas, dos sons. mas após o prmeiro encontro não se afasta mais a morte do corpo. Como uma meretriz apaixonada ela nos dá prazer e nos rouba atranquilidade da consciência. Nos pertuba e ameaça expor nosso caso.
Aos dezessete provei a primeira dose de seu veneno, senti no canto da boca o gostinho do seu ciúme. Não era mais o menino seduzido, era agora o rapaz apaixonado pela vida. O ímpetode viver estampava meu peito e moldava meu sorriso. Isso era desdenhar, a morte. A traia com com sua rival. Trocava as noites quietas e solitárias pelos dias frescos da juventude. Enfureceu-se, deixou sua raiva dominar suas atitudes e deu-me o derradeiro aviso. Tarde demais. Já estava morto novamente, lá estava eu experimentando a morte dos meus sentidos. Me arrebatou dos braços da vida e me aprisionou no cárcere de sua filha bstarda, a tristeza, por longo período.
Devolveu-me a terra, deixou-me a força da vida, mas para garantir que não voltaria a ter outro caso, tirou-me a alegria do viver. Hoje sou defunto ambulante, carne sem vida em meio aos viventes.
Guarde seu receio para depois. Se você se idntifica ao ler estas afirmações, não se assuste, como eu não há só nós dois.

Texto de Jesimiel Sales,
cedido por e-mail. 

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